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    O jogo interior


    Ideias gerais

    O jogo de Basquetebol tem desde à muito a si ligado o conceito de “jogador interior”. No entanto, a sua essência, abordagem prática e particularmente o ensino da sua concessão é, muitas vezes conduzido de uma forma pouco clara. Este documento pretende mostrar uma visão sobre o que significa “jogar interior”

    Entende-se por jogo interior
    todas as acções ofensivas e defensivas que se desenrolem em zonas do campo perto de um dos cestos alvo, com ou sem bola. Colocam-se, desde já, diversas questões... Desde quando devemos nós, treinadores, fornecer este conjunto de ferramentas aos atletas? Quais os primeiros passos? Em que medida se deve avaliar o rendimento de um jogador interior?



    Clarifiquemos desde já:

    Todos os jogadores devem conhecer e dominar técnicas que lhes permitam jogar perto de cesto.



    Tal não significa que todos os jogadores deveram ser especialistas, mas o conhecimento e domínio das técnicas básicas de jogo são essenciais na formação de um atleta, sejam quais forem as características físicas, técnicas e morfológicas do indivíduo.

    A abordagem do jogo interior deve estar presente no planeamento de uma formação a longo-prazo desde sempre, por esta ser uma competência básica de jogo. O 1x1 perto do cesto, o jogo de costas para o cesto, o entendimento dos mecanismos tácticos colectivos e enquadramento nos mesmos, a criação de linhas-de-passe, são todas questões que, cedo ou tarde, necessitam de respostas empíricas e eficazes durante o jogo, seja ele em que escalão for.

    Qual o momento para a sua abordagem? Depende de vários factores, começando pela concessão do planeamento que cada treinador tem para a sua equipa. Cabe-nos a nós projectar, observar e decidir qual o momento em que essa ferramenta se tornará útil aos atletas e quais os primeiros passos a dar.

    Imagine-se uma situação, durante um jogo, em que um atleta com bola se encontra perto da área restritiva, de costas para o cesto, com o seu defendor directo a pressioná-lo, sem ajudas defensivas: qual a solução? Essa é vislumbrada de acordo com as ferramentas que esse atleta possui, sendo que, genericamente, podemos considerar dois caminhos: o “fácil” que seria passar a bola para um jogador exterior e o “difícil” que sugere o 1x1. Independentemente das estratégias, dos sistemas tácticos, da existência de “missmatches” (jogador baixo versus jogador alto), o atleta deve possuir essa capacidade e decidir em jogo se e quando a utilizar. A solução não deve ser ignorar o caminho difícil, mas sim escolher em função da situação concreta do jogo. No entanto, se a ferramenta não existe, não há tomada da decisão, pelo que o atleta agirá sistematicamente pelo caminho fácil. Torna-se claro que é uma ferramenta fundamental! E sendo fundamental, é necessário treiná-la.



    Mas antes...



    Prevenir a especialização precoce em escalões baixos

    Como já foi referido, todos eles (atletas) devem possuir uma bagagem de argumentos técnicos e tácticos para responder satisfatoriamente a situações de jogo perto do cesto adversário. No entanto, no decorrer da fase de especialização, pretendemos elevar o nível de competências específicas em determinados elementos do jogo, aproveitando todas as capacidades técnicas, físicas, psicológicas e perceptivas do indivíduo relevantes e potenciadoras de sucesso. Este é um processo que deve ocorrer depois de uma fase de formação geral, que privilegie o ensino das bases ideológicas da modalidade.

    Frequentemente, deparamo-nos com comentários sobre certo atletas que “joga muito bem a poste” ou que “é muito forte perto do cesto”.

    Sejemos capazes de:



    Não confundir “ensinar jogo interior” com “ensinar a jogar a poste”, pois uma coisa não implica a outra.



    Cabe a nós, treinadores, a missão de prevenir a especialização precoce, não só para jogadores interiores, mas para todos eles. Utilizar sistemas tácticos que permitam a distribuição equilibrada das oportunidades de participação em jogo nas diferentes circunstâncias. Influenciar um jogador baixo a desenvolver a capacidade de jogar perto do cesto mesmo que não pressinta sucesso. Impedir que um atleta mais alto se “habitue” a jogar invariavelmente perto do cesto por ser uma zona com menor oposição.



    Definição de jogador interior

    Mas afinal, o que é um jogador interior? Não existe resposta correcta, pois essa é encontrada por cada treinador. É essencial definir o que é, para nós, no nosso ecossistema, na nossa equipa e com os nossos jogadores, um jogador interior. Trata-se de um jogador com uma altura e porte físico concretos? Quais as competências técnicas que ele deve ter? Deve saber jogar nas posições de poste baixo, médio e alto? Ou é simplesmente um jogador capaz de converter cestos e/ou ganhar ressaltos em zonas perto do cesto?

    Como treinador, é importante que, após esta definição, se criem mecanismos que permitam o entendimento das funções de cada um, não só dos ditos jogadores interiores, mas de todos os restante. Pretendemos tirar o maior partido das características vantajosas dos jogadores e jogar em função delas. Devemos, então, analisar aspectos como:

    - Estatura - Velocidade - Rapidez de execução

    - Força - Conhecimentos - Morfologia física

    - Capacidades perceptivas - Habilidades técnicas



    Jogo interior – bases

    De seguida, apresento um conjunto de competências que podem fazer parte do portfólio técnico e táctico de um jogador interior. Relembro, um jogador interior é aquilo que pretendermos que ele seja, pelo que não se olhe para esta listagem como sendo um conjunto de requisítos para se desempenhar essa função.

    O jogador interior deve:

    Entender as suas funções dentro do sistema colectivo;

    Ser capaz de utilizar a linha bola-cesto como referência fundamental;

    Explorar os seus pontos fortes ao mesmo tempo que pratica os fracos;

    Desenvolver capacidades de jogar sem bola (bloquear, cortar, criar linhas-de-passe);

    Entender e influenciar o posicionamento da defesa;

    Aprender a posicionar-se de forma a evitar que seja defendido pela frente, a três-quartos ou por detrás, jogando com os pés, as mãos e a cabeça;

    Ter confiança na capacidade de converter cestos;

    Estar em boa forma física para correr todo o campo de acordo com o sistema de jogo colectivo e para jogar em áreas perto do cesto;

    Compreender como executar e aproveitar uma variedade de bloqueios ofensivos;

    Desenvolver a visão periférica e a capacidade de encontrar jogadores livres e fazer assistências;

    Percepcionar os ângulos de ressalto, de forma a prever a área onde terá mais hipóteses de o conquistar;

    Ser capaz de jogar de frente, de lado e de costas para o cesto;

    Explorar a “zonas de ninguém” (as zonas entre a linha final e a fase posterior da tabela.

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