• João Carvalho publica sobre:

    "A competição entre os mais novos"

    A competição é, sem dúvida, um fenómeno universal que integra toda a evolução e história do Ser Humano.
    O Homem sempre sentiu a necessidade de buscar algo melhor, de superar os outros e de se superar a si próprio residindo aqui a base da sociedade desenvolvida e exigente que conhecemos no mundo de hoje.
    É também verdade que a competição ganha uma nova dimensão quando associada ao desporto e é aqui que irei focar o meu ponto de interesse.
    Na actividade desportiva profissional, o alcance do sucesso é vital verificando-se que, por vezes, a busca obsessiva da vitória transcende o valor
    intrínseco do exercício físico e do prazer na prática do mesmo.
    Esta é uma atitude grave, errada e preocupante tornando-se ainda mais preocupante quando aplicada na formação de jovens atletas.
    Desta forma, cabe ao treinador ou ao responsável pelo grupo apresentar uma metodologia lógica, adequando o seu trabalho à faixa etária com que está a trabalhar, respeitando todas as etapas de desenvolvimento físico, mental e intelectual da criança.
    Torna-se, então, fulcral que o treinador consiga ornamentar a sua sessão de trabalho com actividades lúdicas que transmitam à criança a sensação de que o treino não é apenas um local de trabalho mas também um local de prazer onde se podem divertir conseguindo, assim, caminhar com passos firmes nesta fase da formação.
    No entanto, como foi já referido, a competição está sempre presente e é aqui que surge a questão base: “Qual o significado dos resultados?”.
    Durante o período de formação de jovens atletas, o treinador deve ter uma atitude parcial, isto é, as suas acções devem prender-se, sobretudo, com o desenvolvimento das capacidades individuais de cada jovem e não com os resultados obtidos nos jogos.
    Ao invés, é frequente surgir na cabeça de alguns pais ou espectadores ideias erradas tais como, “a equipa não é boa porque não consegue ganhar”,” porque os atletas não prestam” ou “porque o treinador não desempenha o papel que lhe compete”.
    Na verdade, e muito mais em níveis de formação, o estar longe das preocupações de rendimento em termos de resultados estatísticos não significa estar distante ou alienado das responsabilidades que verdadeiramente carregamos, a formação de atletas.
     O que é facto é que isto acontece e é frequente a criança ouvi-lo em conversas entre pais e amigos, o que não ajuda em nada o melhoramento das suas capacidades.
     É necessário reconhecer o esforço da criança, o seu empenho para tentar vencer o desafio e, quando não consegue, devemos dar-lhe alento e motivação para que continue a aplicar-se pois só assim conseguirá alcançar a vitória de forma natural.
    Tomo a liberdade de citar uma frase que tive oportunidade de ouvir através do Prof. Mário Barros e que descreve exactamente esta situação: “Quem encontra sem procurar é porque já procurou muito sem encontrar.”. Entenda-se isto como que, após um longo período de derrotas, estas, quando bem manipuladas pelo treinador e utilizando-as como elemento de reflexão e valorização, serviram como fonte de estímulo à natural rotina da vitória.
    O que se verifica é que, muitas vezes, o treinador não consegue gerir estas situações tentando encontrar o problema, a sua causa e a sua solução de uma só vez, o mais rápido possível.
    O que acontece é que são tomadas decisões inconscientes e irreflectidas como por exemplo aumentar o número de treinos ou o nível de exigência dos mesmos com o objectivo de vencer o jogo já do próximo fim-de-semana.
    O problema agrava-se quando no fim-de-semana seguinte a equipa volta a sair derrotada e o treinador sente-se perdido, como que impotente perante tal situação.
    No entanto, nesta altura, o maior problema encontra-se na cabeça dos jovens atletas que, pensando-se munidos de uma nova “arma” para vencer, dada pelo seu treinador, colocam-na em prática durante toda a semana e no final o problema persiste.
    Aqui, duas situações extremamente graves podem acontecer: o atleta encontra a razão do problema na sua falta de aptidão para a modalidade e acaba por abandonar ou então começa a criar medos, insegurança e ansiedade cada vez que é confrontado com uma nova “batalha”.
    Estas são situações gritantes que os treinadores não podem nunca deixar acontecer.

    Em suma, a competição é importante quando encarada como algo construtivo e saudável que preparará o jovem não só para o seu futuro desportivo como também para o seu futuro na vida social, nunca esquecendo que a chave de tudo isto reside no bom senso, no equilíbrio entre o nível de exigência imposto e o nível de aptidão do jovem atleta, nunca esquecendo que a criança precisa de ser criança!

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